sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Dulce Quental

Dulce Quental, numa de suas ultimas entrevistas citou e fez elogios ao meu trabalho.
Fiquei, claro, super lisongeado!
Quero falar sobre Dulce aqui no blog, mas com calma.
Ela foi uma das minhas (re) descobertas desse ano!
Ontem (09/12) ela fez um show em Belém do Pará. Na entrevista, ela conta um pouco sobre as espectativas para esse show, fala da carreira e dos planos para 2011.





Dulce Quental: beleza revisitada

Longe de Belém há 19 anos, cantora sobe ao palco do Margarida Schivasappa nesta quinta-feira

Por Mariano Klautau Filho, colaborador da Ecleteca

Edição: Amanda Aguiar

A cantora e compositora Dulce Quental (foto) é uma das artistas mais originais da nossa música pop. Em 85, juntou Cazuza, João Donato, Branco Melo dos Titãs, Jorge e Waly Salomão, entre outros, na conceituação sonora do seu primeiro solo: .Délica. Surpreendeu ao escrever letras e melodias tão belas - Bossa do Bayard é irretocável - e mais ainda ao cantar com um timbre muito particular. Uma voz quente, macia, solar, que ligava o charme bossanovista a letras mais alinhadas com o pop. No imaginário das canções, parece que assistimos a filmes, lemos ótimos livros, viajamos sempre. Em 87, o segundo disco, Voz Azul veio mais apurado, tanto no rock como no blues. A canção perfeita, letra e música suas é Não Atirem no Pianista, referências a Truffaut e Van Gogh e muitas outras maravilhas. Misturou Celso Fonseca, Ciro Pessoa e Herbert Viana. Sempre à frente, com muito charme e pegada pop.

No terceiro disco, em 88, gravou Arnaldo Antunes, Itamar Assumpção, Arrigo Barnabé e Cazuza. A sofisticação tanto nas letras como nas melodias não impediu a aproximação com o público - construiu sucessos autênticos como Natureza Humana, Caleidoscópio e Onde Mora o Amor. No auge, sumiu do mercado fonográfico, compôs muito com Frejat, entre outros parceiros. Decidiu traçar uma carreira independente, lançou uma coletânea em 2001 e gravou um belo trabalho em 2004, Beleza Roubada, e agora retorna a Belém depois de um longo tempo. Tive a oportunidade de vê-la no Rio em 2005, unindo Chico Buarque a Cibelle. Dulce Quental está cada vez melhor. Surpreendente em sua mistura tão precisa, em sua música tão envolvente. Trocamos por e-mail algumas ideias sobre a passagem do tempo, o interesse pela nova geração e sua vontade sempre renovada de fazer música. Não percam seu show nesta quinta no Teatro Margarida Schivasappa, do Centur.

O CD "Beleza Roubada", de 2004, marcou a sua retomada no mercado fonográfico após uma interrupção de 16 anos. Ele será a base do seu show em Belém?

Apesar de Beleza Roubada ser o meu último trabalho, optei, ao pensar no repertório do show, por escolher canções das várias fases da minha carreira. Por dois motivos: nem todo mundo conhece o Beleza Roubada e também por se tratar de um disco todo gravado com eletrônica, o que exige uma formação muito específica que funciona bem para algumas canções e não para outras. Pelas inúmeras tentativas que fiz, ao tentar transpor a sonoridade do disco, cheguei à conclusão de que o formato acústico, costurando tudo sob uma concepção mais natural funciona melhor para apresentações ao vivo.

Esse tempo todo fora do mercado fonográfico não interrompeu sua produção e nem afetou o seu conceito de fazer música, entre o pop e a sofisticação melódica e poética. Como você conseguiu manter um estilo sonoro tão atual em meio a tantas mudanças na cultura, na mídia e na música popular ocorridas dos anos 80 até hoje?

Eu acho que priorizando o processo e a busca, em vez do resultado. Fazendo da busca e da pesquisa pessoal um objetivo maior do que o sucesso e o mercado. O auto conhecimento, o prazer pelo conhecimento e o desafio de superação das limitações é o objetivo maior. Isso, é claro, trouxe e traz um sacrifício enorme, pois nem todo mundo reconhece esse esforço ou identifica essas qualidades como importantes - já que o objetivo da maioria dos artistas é ser famoso, ganhar muito dinheiro, ter muito sucesso e muitas vezes o público e a mídia só reconhecem quem alcança esses patamares. Mas eu aprendi a viver sem isso e a valorizar as "pequenas" conquistas. Isso porque descobri que o meu tesão é pelo conhecimento. A minha trajetória é singular. O que desejo é aprender sempre mais, inclusive com os novos. Por isso estou sempre recomeçando. Sempre junto de quem está no início. Para aprender com eles e me renovar. Sou uma espécie de Vampiro Lestat.

Você passou a se dedicar mais à composição nos últimos tempos. O cinema, a literatura e a filosofia estão muito presentes na sua música. Como você se dedica a esses universos e como eles são filtrados para dentro da canção popular? De onde vêm tantas imagens?

Eu diria que hoje o material vem de dois lugares: da experiência pessoal e da filosofia. Antes vinha muito do cinema, mas nos últimos anos mergulhei muito na filosofia. Tento então juntar o coração com o pensamento. Melhor diria, dar corpo ao pensamento conectado ao coração. O grande desafio é transpor ideias complexas para a linguagem da musica sem que fique uma coisa dura, cerebral. Gosto da ideia de colocar ideias e conteúdo nas canções. É pretensioso, mas eu gosto desse desafio.

Como se dá o diálogo com os parceiros?

No momento, trabalho com dois jovens compositores, sou encantada pelo trabalho dos dois. Um é de Recife. Outro de Cuiabá. Conheci os dois no Festival de Ponta Grossa, Paraná, onde fui jurada. Com Zé Manoel, de Recife, trabalho de uma maneira. Ele é o maior compositor com quem tive o privilégio de trabalhar. Uma mistura de Jobim, Caymmi com voz de João Gilberto. Fizemos duas músicas. Eu sempre colocando a letra sobre as suas melodias - que são belíssimas. Não poderia ser de outra forma, pois ao contrário seria prendê-lo numa camisa de força. Mas nas letras pro Zé não dá pra pesar na mão. Vai mais no sentimento poético. Já com o Paulo Monarco, de Cuiabá, funciona ao contrário. Como ele é mais pop, dei uma letra e ele musicou. Aí peguei pesado. A letra que enviei pra ele é bem cabeça. Diria que os dois representam no momento os meus dois lados: o clássico bossanovista e a pegada rock and roll/pop.

Com Zé Manoel e Paulo Monarco você tem um projeto chamado Conatus Coletivos. Que projeto é esse?

O Conatus Coletivos é uma maneira de intensificar o nosso intercambio. A ideia é viajarmos ano que vem, juntos, num show coletivo em que cada um mostra seu trabalho e interage coletivamente. Vamos ver se conseguimos. Estamos abertos a propostas.

Quais são as sonoridades e as referências que constituem a Dulce Quental de hoje? O que mudou de lá para cá?

Eu tenho até vergonha de falar, mas eu não escuto música. O mundo já é tão barulhento que eu procuro escutar a musica que vem de dentro. E é claro, coisas como jovens artistas que o acaso me leva a encontrar como é o caso do Zé Manoel que foi a coisa que mais escutei esse ano.

A letra de "Délica" (música-título do primeiro disco) já falava, em 1985, de um tempo muito veloz - que se vive intensamente hoje, nos anos 2000. Como é a convivência com seu público na era da internet? Quem é o seu público hoje?

A internet trouxe a possibilidade de proximidade com o público. Hoje tenho alguns amigos com quem mantenho contato e isso me alimenta bastante, pois eu sou uma artista fora dos esquemões comerciais. Uma artista independente. Essas relações me ajudam a resistir e a não desistir da música. Talvez eu já tivesse parado se não fossem meus amigos virtuais. Mas meu público está muito pulverizado. Eu não saberia dizer qual a ordem de grandeza dele. É pequeno mais fiel. Parte importante dele vou reencontrar aí em Belém. Vai ser muito emocionante voltar à cidade 19 anos depois.

FONTE: http://www.ecleteca.com.br/beta/lernoticia.php?idnoticia=412

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